quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Um dia escrevi, 14 anos:

"amar é sentir fanatismo por um mito.
é tentar atravessar o infinito,
é ser rico e ter carência,
é ser livre e ter a sensação de dependência,
é ter a virtude de esperar,
é ter a ousadia em arriscar,
é ter algo a dominar o pensamento,
é banalizar o sofrimento,
é não ter razão e repreender,
é ilimitar o padecer,
é subir a um monte e...
tentar passar pela linha do horizonte..."

Estaria apaixonada? Não me identifico muito com o poema, confesso...Se bem que alguns excertos fazem sentido, mas associados a outro conceito... se é que podemos chamar amor aos nossos acessos de felicidade. Quando os conteúdos são grandes de mais para os recipientes. Enfim… Podemos? Autorização? Permissão? O que podemos amar? O amor pressupõe um compromisso?
O senso comum opina, elege como máxima a consomação. Quem ama, fá-lo para sempre, contrato virtual... constroem-se estereótipos, criam-se vinculações. E nós, pobres diabos, passamos a redundância e não queremos perder carácter... deixamo-nos levar pela corrente da instituição. Ocorre-me a criança que ouve a mãe a dizer "o meu João não gosta de cenoura" e o João não comerá mais cenoura, porque não quer perder personalidade. Foi o quadro que lhe pintaram. O João só voltará a comer cenoura às escondidas ou quando crescer e se aperceber que tem mais com que se preocupar.
Existe a necessidade constante de identificar sentimentos, associada à absoluta necessidade de verbalização. Exteriorização! Vocabulário! Nomes e mais nomes e palavras, são as ferramentas, as nossas bengalas! Não se pode confiar sempre... o que não falta aí é equivoco...Não seguindo esse fio condutor.. decididamente, não nos podemos cingir nesse facto. Não digo nada de novo, certamente... Mas tudo é bem mais complexo!
Não faço uma introspecção concreta. "O que se passa? será amor? amizade? paixão?" (entre outras). Não existe nenhum algoritmo para descobrir, Intuição... Intuição que depende de cada um, de cada segundo. O amor é, indubitavelmente, o animal com mais espécies. Infinitas.
A racionalidade pede para mergulhar bem fundo, numa altura em que se sente o sabor da consequência e se perdeu a origem da sequência, perdeu-se. Não há hipótese, inatingível. Essa mesma racionalidade é a responsável pela incostancia. Tenta-se diplomaticamente, abre-se uma porta, aparecem duas, fica-se confuso, labirinto, espiral do caracol, cabelos embaraçados da barbie esquecida, desfaz-se da cordialidade e o resto imagina-se... O estado de espírito compromete-se. Os alicerces fragilizados. Independentemente dos dons, capacidades físicas e intelectuais, se não houver estabilidade, a confiança na atitude desvanece, não interessando para nadinha porque pensamos que não temos legitimidade para agir...
Creio que descobri, gradualmente, que quanto mais diligencio, quanto maior é a busca, mais me afasto da clarividência. Parece irónico, mas a natureza é mesmo assim. A natureza é intransigente, sarcástica. No entanto, julgo-a imparcial. Nunca pensei, por um momento que fosse, que me escolheram como mártir. Endireito as costas! Sinto-me mais saudável!
Pois é. Sinto-me mais serena. Não imperturbável, claro!
Amo o céu azul, os meus sapos e rãs que me ambientam à noite. Amo o sorriso da pessoa gentil, as gargalhadas da malta, no Bar do Peixe. Amo a luz do sol esbatida no focinho da Vitória e da Blanca, quando cerram os olhos absorvendo calor. Amo a simplicidade da minha avó, a sensibilidade da minha mãe, o humor da tânia. Amo a musica, o piano, Nina Simone. Amo cinema, o Wes Anderson. Amo a genuinidade dos Açores, a barafunda de Lisboa. Amo a rebeldia do Reinaldo Arenas, a boémia q.b. Amo a loucura, as luzes da noite. Amo estar encostada ao tronco a comer tangerinas. Amo as recordações, estar a dançar Technotronic imaginando aplausos e pedidos de encore. Amo imagem e movimento, fotografia. Amo queijo mancheco e bom vinho tinto. Amo olhos brilhantes, olhares fulminantes. Amo as tardadas, almofadas e bocejos. Amo o repetitivo pôr-do-sol. Eu amo tudo o que me faz feliz.